Hoje celebramos, em nossa vida de fé, uma data que nos marca profundamente, de modo especial pelo empenho de todos, leigos e leigas, em preparar as celebrações, os belos altares e tapetes, para que o Cristo Senhor por eles possa passar nos abençoando. 

Esta festa vem de uma longa tradição da Igreja, instituída pelo Papa Urbano IV no ano de 1.264. E tomou seu caráter universal definitivo 50 anos depois de sua morte, a partir do século XIV, quando o Papa Clemente V, em 1.313, confirmou a Bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial. Aos poucos, fortaleceu-se a tradição do clero em realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia.

Mas como viver esta fé neste tempo de quarentena ou de isolamento social, no qual somos convidados a celebrar em nossas casas e não nas ruas, como temos a tradição de fazer?

Sabemos que, em nossa fé, sempre tivemos um grande amor pelo Cristo Eucarístico, que agora não podemos receber e nem contemplar de modo presencial. Mas, se olharmos para o Evangelho de Jesus, para a sua mensagem, encontramos outros caminhos que podemos viver para encontrá-Lo e experienciar nosso momento de intimidade com o seu Espírito. 

A poucos dias, celebramos a festa de Pentecostes, quando fomos embebidos pela grandeza do Espírito derramado sobre todos os crentes e nos tornamos portadores do mesmo Espírito que a Eucaristia nos oferece. Não estamos abandonados. Este Espírito continua nos revelando os ensinamentos do Filho e nos dando a certeza de que Ele caminha com a comunidade.

Este Espírito nos envia em missão em comunidade, para servirmos os pobres. Sim, os pobres também são espaços teológicos onde nos encontramos com o Senhor, “pois todas as vezes que fizestes algo a um destes pequeninos foi a mim que o fizeste” (Mt 25,40). Somos então convidados a viver a caridade para com o próximo, partilhar nossos dons e bens com aqueles que perderam o emprego, estão doentes, isolados, são de grupos de risco, e tantas outras novas formas de pobreza que somos chamados a cuidar, porque Cristo aí está presente e nos espera. 

Sim, precisamos aprender a encontrar o Senhor na sua Palavra, que nos orienta, nos anima, nos encoraja a viver nossa fé, mostrando o seu desejo para cada um de nós,  batizados e batizadas. Ler a sua Palavra, meditá-la em família, ter tempo para conhecer a bela mensagem que o Senhor nos deixou, escutando não uma história antiga, mas o amor de Deus que nos fala e nos convida a confiar em sua presença em nossas vidas, nossos lares e nossas comunidades.

Sim, a Eucaristia nos faz falta. Mas o Senhor nos oferece outros espaços de encontro. Que neste dia possamos olhar para estes espaços e experimentar a certeza de que Ele está em nós, como nós buscamos estar Nele. E pedir que logo possamos viver e celebrar em comunidade, onde Ele se faz alimento para os pequenos, para os que confiam em seu amor e aprendem a encontrá-lo no outro, na Palavra, na comunidade. 

Pe. Ilson Luís Hübner
Diretor geral