O corpo docente da Faculdade Vicentina agora tem mais um integrante com doutorado completo. Aluísio von Zuben defendeu sua tese sobre lógica e filosofia da linguagem no dia 3 de outubro, pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), na linha de pesquisa de Filosofia Analítica.

O estudo – intitulado “Leibniz, Frege e o Tractatus de Wittgenstein: da dificuldade de notação à transcendentalidade da lógica” – foi orientado pelo Dr. Bortolo Valle, que também faz parte do corpo de professores da FAVI. Além do orientador, a banca examinadora foi composta por: Dr. Léo Peruzzo Júnior, Dra. Viviane Castilho Moreira (UFPR), Dra. Cristina Del Carmen Bosso e Dr. Andrés Stisman – estes dois últimos, da Universidade Nacional de Tucumán (Argentina), participaram por videoconferência.

Prof. Aluísio 3“O elemento que tem alguma novidade, ao menos na literatura do Brasil, é a comparação entre a filosofia de Leibniz e a do Tractatus, relação que precisa ser mediada por Frege, no que concerne à lógica. Essas filosofias também guardam semelhanças no âmbito da ontologia. Como a teoria da significação da linguagem, no Tractatus, tem seu fundamento na igualdade de forma lógica entre mundo e linguagem, isto permitiu unir estes três filósofos na medida em que reunimos a ontologia à lógica, para explicar a linguagem”, expõe Aluísio.

E complementa, sobre a trajetória de pesquisa e os autores referenciados: “Frege é um pensador restrito ao objetivo de deduzir a aritmética da lógica, o que o obrigou a expandir sua análise também sobre a linguagem. Já Leibniz é um filósofo que trata de tudo, sua filosofia é um grande sistema onde encontramos toda a tradição grega e medieval, bem como tematizações da ciência de seu tempo. Isso exigiu abordar a teoria das categorias de Aristóteles e suas implicações sobre o problema tomista e escotista do princípio de individuação. Por seu turno, o Tractatus logico-philosophicus tem o objetivo de resolver os problemas da filosofia por meio do método analítico da linguagem, cujo princípio é falar claramente ou se abster quando a clareza não é permitida pelas restrições de significação. O resultado disso foi que, nesse livro, Frege fica parecendo um pensador que desenvolveu um enorme sistema, enquanto Leibniz parece não ter se dedicado a quase nada. Efeito de ter Wittgenstein se obstinado tanto a aperfeiçoar a notação lógica, com muitos comentários e propostas de solução para aqueles problemas, e negado a possibilidade de toda metafísica, por impossibilidade de significação de suas proposições. Por fim, tratamos da transcendentalidade da lógica”.

“Gostei muito de fazer esta pesquisa, embora tenha sido muito trabalhosa, mas, como diz o povo com muita propriedade: ‘quem corre por gosto não cansa’”, conta o novo doutor.

Confira, abaixo, o resumo do trabalho.

Resumo da tese

Stegmüller afirmou que Wittgenstein, no Tractatus logico-philosophicus, dá tratamento inadequado a muitos termos filosóficos, como “substância” e outros, revelando seu desconhecimento da tradição da filosofia, o que, paradoxalmente, tornaria a obra mais facilmente compreensível para os amadores do que para os profissionais. Nossa tese consiste em mostrar que Wittgenstein teve conhecimento suficiente da tradição filosófica, sem o que não se poderiam colocar os problemas que se dispôs a enfrentar, e que seu tratamento dos termos decorre do rigor de seu método, consistente em usar a linguagem respeitando-se seus limites de significação, apresentados por meio de sua teoria da afiguração, cujo fundamento é a igualdade de forma lógica entre mundo, pensamento e linguagem. Este isomorfismo lógico pode ser mostrado por meio de uma notação lógica adequada, o que foi elaborado pelos desenvolvimentos da Conceitografia de Frege como efetivação de um ideal de Leibniz, cuja metafísica abrange temas tradicionais da filosofia grega e medieval, particularmente sua Monadologia, apresentando elementos de semelhança com a ontologia do Tractatus, tais como as concepções de espaço e tempo, espaço lógico e mundos possíveis, a relação entre necessidade e contingência e a negação da causalidade. A igualdade de forma lógica entre linguagem e mundo foi primeiramente sistematizada, embora não nestes termos, pela teoria das categorias de Aristóteles, cuja lógica adotou o modelo gramatical de sujeito-predicado e que se manteve até o novo modelo apresentado pela Conceitografia de argumento-função, decalcado da aritmética, permitindo a criação da notação lógica idealizada por Leibniz, mas obstruída pelo tradicional padrão aristotélico apegado à linguagem natural. Este vínculo de Leibniz com a memória aristotélica pôde ser evidenciado pela aproximação entre a teoria de Leibniz, da presença do predicado na noção do sujeito nas proposições verdadeiras, tanto idênticas como contingentes, enraizado na concepção leibniziana de substância individual e na dupla interpretação aristotélica dos termos, e conceitos, em bases de intensão e extensão, bem como os problemas do transcurso, ou descensus, do universal ao singular, a exemplo da discutível legitimidade do modo Darapti, quando confrontado aos diagramas de Venn, e justificado por meio dos recursos da suppositio e ampliatio dos medievais. Tematizações decorrentes da noção de substância primeira e segunda de Aristóteles, ilustrativas dos insuperáveis problemas aos quais os filósofos foram inevitavelmente enredados por sua adesão à estrutura sujeito-predicado. As virtudes da notação conceitográfica foram expostas, principalmente, por meio de sua solução do significado de “verdadeiro” e “existência”, bem como pela análise da fórmula (69), com o que se evidenciou a autonomia da lógica relativamente ao mundo e aos portadores de ideias, possibilitando a Wittgenstein identificar o espaço lógico e declarar a transcendentalidade lógica, manifestando o rigor de seu método e razão de seu tratamento de termos como “substância”, alvo da infeliz reprovação de Stegmüller.