Prezadas Senhoras e Senhores (professores, alunos, formadores), bom dia à todos!

“Talvez a linguagem seja uma dessas coisas que por nos serem mais familiares é também a mais difícil de entender.” É desta forma que Wittgenstein, um dos maiores filósofos do século XX, descreveu a linguagem.

Mesmo cientes do grande desafio a que nos propomos, temos a pretensão de tomar a linguagem como área de investigação filosófica neste XXXVII Simpósio de Filosofia, que traz como tema: “Linguagem e Linguagens”.

Se tomarmos como base a tradição filosófica, perceberemos que a linguagem sempre ocupou um espaço secundário e de menor expressão entre os filósofos. Platão foi quem inaugurou essa questão no diálogo Crátilo. Em meio a um debate entre os personagens de Hermógenes e Crátilo, Platão conclui que a linguagem, em virtude de sua ambiguidade, é fonte de erro, não sendo, por esta razão, confiável. Essa concepção negativa parece ter influenciado de modo decisivo boa parte das reflexões filosóficas posteriores. Estava lançado o espaço reservado à linguagem nas veias da filosofia: um instrumento auxiliar a partir do qual se pode descrever o mundo, e nada além disso.

Entretanto, entre os séculos XIX e XX, há uma verdadeira Virada Linguística (Linguistic turn), a partir da qual a linguagem deixa de ser um simples instrumento de descrição do mundo real, tornando-se um elemento de afirmação do próprio mundo. Dito de modo mais apropriado, a linguagem passa a instituir o mundo, ou seja, o mundo torna-se um produto do discurso, de tal sorte que, se mudarmos o discurso, torna-se possível mudar o próprio mundo. Temos o nascimento da filosofia analítica da linguagem.

A filosofia, como todos sabem, é uma atividade permanente de esclarecimento, todavia, a partir da Virada Linguística, o processo de esclarecimento não pode desconsiderar as complexas redes que se desenvolvem por meio da linguagem, as quais interligam as pessoas, o mundo e a realidade.

Nestes dois dias de Simpósio, pretendemos explorar as diversas relações entre a linguagem e a cultura; a linguagem e a política; a linguagem e o mundo; a linguagem e o homem. O tema não poderia surgir em um momento mais oportuno, uma vez que hoje vivenciamos um cenário político e social conturbado e impregnado pelos mais variados discursos. Nesse sentido, temos motivos para acreditar que a Filosofia produzida na Faculdade Vicentina não está desvinculada da realidade social. Nosso discurso ecoa no meio da sociedade, uma vez que formamos cidadãos comprometidos, conscientes e preparados para os desafios sociais.

Neste Simpósio, além da reflexão acadêmica, das conferências, workshop e mesa-redonda, temos outros motivos que nos fazem aproveitar a oportunidade para comemorar. Entre eles, estamos celebrando os 10 anos de Reconhecimento do Curso de Filosofia, o qual vem se consolidando com uma proposta de qualidade acadêmica, o que pode ser constatado pelas avaliações do MEC, bem como pelos resultados obtidos no ENADE.

Além disso, queremos aproveitar a ocasião para homenagear o professor Domenico Costela, o qual dedicou muitos anos de sua vida ao ensino da filosofia em nossa instituição. Em sua homenagem, a Faculdade Vicentina lançará, a seguir, o livro “Ética e Misericórdia”, composto por textos produzidos por alguns dos professores da nossa instituição. Essa obra torna manifesto o nosso agradecimento pela singular contribuição decorrente do trabalho do professor Domenico.

Por fim, quero agradecer a presença de todos e desejar um excelente simpósio. Que possamos, assim como nos propõe Kant, despertar a razão, e ver onde ela pode nos levar.

Muito obrigado à todos!