O professor Edimar Brígido publicou um artigo no jornal curitibano Gazeta do Povo no qual, partindo do filosofo Ludwig Wittgenstein, propõe  filosofia como uma forma de terapia. Veja o artigo na íntegra.

“Ludwig Wittgenstein, um dos maiores filósofos do século 20, nutria a firme convicção de que a arte era um meio possível para superar os diversos conflitos que cercam a vida humana. De acordo com ele, a arte poderia conduzir a vida a um final positivo, no sentido de uma satisfação ou uma liberdade mental. A liberdade e a paz resultantes da música e do poema não são um estado meramente psicológico, mas sim um sentimento de admiração e de respeito para com a linguagem poética e a expressão musical. É assim com a atividade estética, assim deve ser com a atividade filosófica.

Ao aplicar o modo eficaz de investigação estética na investigação filosófica, o resultado será a cura da doença da qual há muito tempo padece a própria filosofia. Trata-se da pretensão wittgensteiniana de encontrar as terapias adequadas para solucionar a enfermidade, para dissolver todos os problemas que afligem os filósofos.

Existem diversos métodos, assim como existem diversas terapias e, ao fazer uso da terapia apropriada, o resultado será a superação dos problemas e, consequentemente, a tão desejada paz filosófica será alcançada. Trata-se do regresso ao cotidiano, trata-se da redescoberta das palavras e do seu devido uso, o qual Wittgenstein compara com a imagem de um homem que estava perdido e encontra o caminho de retorno a casa.

Reencontrar o caminho faz alusão à necessidade de retornar ao cotidiano, onde a vida acontece. É no cotidiano, entendido como lugar onde as experiências ocorrem, que se encontra a solução dos problemas. É por isso que Wittgenstein insiste na tese de que a filosofia não pode ser uma ciência, mas ela é como as artes, e só deveria poder ser uma forma de poesia. Os problemas de filosofia nascem justamente com o espanto dos filósofos diante do esplendor da vida, e isso teoria nenhuma é capaz de curar.

Wittgenstein recorda que, em se tratando de filosofia, a paz nunca será duradoura e, novamente, a atividade filosófica deve ser retomada. Desse modo, podemos considerar que acabar com a filosofia é impossível, simplesmente porque é impossível acabar com os fenômenos que tocam a vida humana. A filosofia nasce desse embate entre a vida, o espanto e o desejo de comunicar, e isso se aplica a todas as pessoas que pensam, observam e se assombram, mas particularmente aos filósofos, poetas e artistas”.

Edimar Brígido, especialista em Ciência da Religião e Filosofia com ênfase em Ética, é mestre e doutorando em Filosofia.