É com imensa alegria que faço essa abertura do 1º simpósio paranaense em ciências da religião. Em maio de 2009 estivemos reunidos para o 1º colóquio nacional, o qual teve ótima repercussão não apenas entre os participantes, mas também entre as pessoas que de uma forma ou de outra tiveram contato com o mesmo.
Não sou um expert na área, e por isso não terei preocupações  de cunho científico para abordar inicialmente o tema proposto para esse simpósio: “Deus no mundo contemporâneo”.
O tema que será abordado nesses dois dias se reflete na vida de todos os seres humanos, pois todos nós acreditamos em algo, mesmo que essa nossa crença não seja diretamente em um deus. Acreditamos em algo superior, que nos transcende, que está além da nossa possibilidade e capacidade humana e por isso se apresenta como um constante apelo à transcendência.
Muitos viram no desenvolvimento da ciência e da tecnologia o anúncio próximo do fim da religião. Através delas, o homem resolveria os grandes problemas da humanidade e, de conseqüência, a religião se tornaria algo supérfluo. Expressão da minoridade do homem. No entanto, o que parecia satisfazê-lo plenamente, deixa-lhe um enorme vazio. Os bens materiais, os avanços científicos e tecnológicos, deixavam sem respostas aspectos e perguntas essenciais da experiência humana. Victor Frankl chama a isso de vazio existencial e vê nele uma das maiores deficiências do mundo contemporâneo. O que é externo, material e pode ser comprovado, parece não responder aos desejos e ansiedades mais profundas da raça humana. É essa experiência, muito mais sentida ou intuída do que propriamente elaborada, que provoca uma reviravolta nos rumos previstos para a história da humanidade. Ao invés de caminharmos para o desaparecimento da religião, suplantada pela razão, assistimos a um forte retorno do sagrado. A história parece então dar razões a grandes pensadores como, por exemplo, Platão que ao mesmo tempo em que empenhava suas melhores energias numa explicação puramente racional do mundo, reconhecia que onde a razão se confronta com os seus limites ela pode ser superada pela intuição, expressa na compreensão religiosa.
O ser humano parece complexo demais para se contentar com respostas unilaterais, por mais que estas sejam relevantes e até mesmo geniais dentro de seu campo específico. Uma realidade complexa exige abordagens diversas, a partir de pontos de vista também diversos. A sensibilidade do homem contemporâneo espelha o reconhecimento diante dos grandes benefícios da ciência, mas ao mesmo tempo a percepção de suas limitações.
Há dimensões essenciais da vida humana nas quais a ciência e a tecnologia parecem não ter quase a dizer. Basta que nos perguntemos o que ela teria a dizer sobre o sentido do sofrimento, da morte ou mesmo sobre o sentido da existência humana. A vida humana exige horizontes mais amplos que podem ser apontados somente na pluralidade de abordagens e saberes, realidade essa bem compreendida pelo grande físico Albert Einstein o qual dizia que a religião, a ciência e a arte são frutos de uma mesma árvore, saberes diversos que na medida em que se integram nos ajudam a olhar de uma forma mais abrangente para a complexidade do real.
Damo-nos conta hoje de nos encontrarmos num novo momento histórico. Com prazer reconhecemos que está ficando para trás aquelas compreensões restritas que viam a religião e a ciência como realidades antagônicas, diante das quais cada um precisava escolher de que lado ficava. Hoje percebemos que, de um lado, homens e mulheres religiosas acompanham com alegria os significativos avanços científicos, de outro, vemos também com prazer que muitos homens e mulheres da ciência olham com profundo interesse e respeito pelo sagrado, buscando entender as interfaces destas duas grandes expressões da experiência e do saber humano. Nesse âmbito se coloca esse simpósio de ciências da religião.
É nessa grande convicção de que a ciência e a religião tem, ambas, uma contribuição importante e que podem e até precisam caminhar lado a lado, no respeito mútuo e na integração que enriquece a ambas que a Faculdade Vicentina e o Instituto ICHTHYS querem dar continuidade a estes eventos no âmbito das ciências da religião.
Finalizando quero então, como reitor da Faculdade Vicentina, expressar minha expectativa de que esse colóquio nos ajude a aprofundar a temática proposta “Deus no mundo contemporâneo” e seja de grande enriquecimento para todos.


Prof. Dr. André Marmilicz
Reitor